Por Belarmino Mariano Neto* (Geógrafo) e Vanderley de Brito (Historiador)**
Este pequeno ensaio é apenas o despertar para pesquisas mais aprofundadas sobre um tema que aguça a imaginação humana. Os segredos, enigmas que permeiam a imaginação popular dos sertões e carrascais nordestinos. Os arrancadores de botijas, o sonho com almas e tempos passados.
Essa imaginação futura de fortuna enterrada em tempos pretéritos e a cobiça de enriquecer, saindo da condição de pobreza absoluta para em uma espécie de sorte grande melhorar de vida. Isso remonta a ideia do “El Dourado”, a tentação do ouro em moedas, estatuetas maciças e caixas em madeira de lei guardadas a sete chaves e cobertas pelo véu do tempo e do desconhecido.
A pergunta é sempre a mesma, o que existe de verdade e de lenda por entre essa seara dos contadores de histórias e casos enigmáticos que a memória sertaneja teima em resgatar?
O termo botija, entre as comunidades rurais nordestinas, significa tesouros ocultos, representados por moedas e objetos ou joias em ouro e prata confinados em potes cerâmicos enterrados no solo, ou escondidos no interior de paredes de casas velhas. Estes cabedais teriam sido deixados pelos holandeses e outros colonizdores, jesuítas ou por ricos fazendeiros que temiam serem roubados, e estariam à espera de seus respectivos afortunados escolhidos pelas almas guardiães.
Os tesouros teriam ficado guardados por décadas até um escolhido receber, através de sonho, a indicação do local onde se encontrava oculto um destes. Esta revelação tinha caráter sobrenatural e o ato de resgate era cercado de regras cerimoniais indispensáveis. Os mapas mentais dos lugares exatos e as descobertas só eram possíveis com muita confiança das almas antepassadas.
Segundo as “histórias de Trancoso”, os folclóricos relatos no meio rural, geralmente, o resgate devia ocorrer à meia noite e o afortunado deveria ir sozinho. Munido de pá, picareta, orações, velas e talismãs para arrancar a botija, pois o tesouro só era encontrado por aquele a quem foi destinado. Este, se não cumprisse fielmente a operação cerimonial, se não seguissem corretamente os sinais, o tesouro transformava-se em formigas, trapos, carvão e cinzas ou simplesmente desapareceria. Caso enviasse um substituto, este não o encontraria.
Para o processo de resgate era necessário que o anunciado tivesse muita coragem, pois era comum aparecer almas e demônios para impedir a escavação. Outro ponto importante que deveria ser seguido, era que o afortunado, após arrancar a botija, se mudasse para outra região. Assim ficavam livres das almas e poderia desfrutar das riquezas deixadas pelos habitantes do além. Claro que os tesouros guardados pelos avarentos, precisavam ser desenterrados, pois estes descobriam que não precisariam de tais fortunas na outra vida, mas só conseguiriam cruzar os umbrais do mundo astral depois que se desapegassem das materialidades mundanas.
É comum encontrarmos pessoas no meio rural afirmando que certo fulano teria arrancado uma botija e desaparecera dali. Muitos agricultores contam em noites de luas as famosas “histórias de Trancoso”, nas quais o universo imaginário dos ouvintes fica repleto de um misto de medo, magia e credo no contado. A história oral e a memória dos velhos que vivem nos sertões rurais da Paraíba e acreditamos de todo o Nordeste brasileiro, estão repletos de casos em que alguém um dia tenha sido visitado em sonho e que uma botija estava esperando para ser arrancada. Os locais geralmente guardam traços de antigas moradas, porteiras, fundos de galpões, casas de farinhas abandonadas, taperas ou grandes pés de juazeiros que serviam de sobra para o gado das fazendas.
Como filhos de sertanejos, ouvíamos atentos os mais velhos contando tais histórias e casos acontecidos, com os mais velhos de nossas famílias ou das vizinhanças. Sabemos também que os povos indígenas da nossa região seguiam alguns rituais fúnebres, nos quais enterravam as cinzas dos seus mortos em urnas ou potes cerâmicos e muitos agricultores contam pelas bandas do agreste e brejo que arrancavam grandes potes, mas só encontravam cinza e carvão. Esse fato despertava ainda mais a intrigante mística de que as botijas haviam sido encantadas, pois eles não seriam as pessoas escolhidas para arrancá-las ou simplesmente porque estavam na presença de mais pessoas enquanto trabalhavam na roça.
Em muitos casos, os campos agrícolas dos dias de hoje, podem ter sido cemitérios de povos originários e os potes cerâmicos utilizados como urnas funerárias em rituais indígenas do passado, revelam um nível elevado de cerimonial aos mortos, em que os antepassados eram cremados e os restos mortais transformados em cinzas voltavam ao solo sagrado da Terra.
Ainda sobre as botijas dos homens de posse material, é certo que estes tesouros de fato existiam e que ainda podem existir. Segundo nos consta, a notificação mais antiga de botija em território paraibano data de 1729 quando o ouvidor geral da Capitania Real da Parhayba, João Nunes Souto, envia ao rei D. João V uma carta sobre o suposto achado de uma botija contendo coisas de valor, que havia sido enterrada durante a ocupação holandesa na fazenda de Leonardo Pires de Gusmão. Este documento consta no Arquivo Ultramarino de Lisboa. Contudo, não sabemos se o processo de anunciação e resgate, no campo do sobrenatural tenha sido realmente fato ou folclore.
Infelizmente, muitos acreditam que as inscrições rupestres existentes nos rochedos da Paraíba sejam indicativas de botijas e assim, escavam a base destas pedras em busca do suposto cabedal destruindo a organização estratigráfica de sítios arqueológicos descontextualizando os vestígios existentes. Um prejuízo incalculável para a ciência arqueológica e uma decepção para o caçador de tesouros. Pois, o máximo que poderá exumar nestes locais são ossos velhos, carvões, esteiras apodrecidas, lascas de pedras e cacos de barro cozido. Vestígios de primitivas sociedades desprovidas da cobiça e desejo de riquezas.
*Texto Republicado de 2008. Fonte abaixo. Imagem do autor.
**Autores da Paraíba, Nordeste do Brasil.
Fonte:
ARQUIVO Público do Estado de São Paulo. Relatos sobre Botijas. São Paulo, Arquivo Público, 14/Jul/1729. Disponível em < https://atom.arquivoestado.sp.gov.br/index.php/carta-do-ouvidor-geral-da-paraiba-paraiba-14-jul-1729>
MARIANO NETO, Belarmino. BRITO, Wanderley de. Caçadores de Botijas. Guarabira/PB: Observatório do Agreste, 21/Nov/2008. Disponível em < https://observatoriodoagreste.blogspot.com/2008/11/caadores-de-botijas.html >.
MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário nos cariris velhos do Paraíba. João Pessoa: UFPB/PRODEMA (Dissertação de Mestrado), 1999. Disponível em < http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dezembro2011/geografia_artigos/9disser_cariri_paraiba.pdf >
Por Belarmino Mariano
Fonte: Linha do tempo de Isidro Fortunato, set./2015 |
Por: Isidro Fortunato
Incrível mesmo é você saber que a sensibilidade, a mobilização da mídia mundial tem um padrão racial, Senegaleses estão morrendo na costa do Mediterrâneo, estão sendo sepultado no fundo dos mares, seus cadáveres são deixados para ser decompostos pelos sol e devorados pelas condições climáticas existentes, no entanto precisávamos ser brancos, ter a cor de Aylan Kurdin para que a morte fosse testemunhada pela media internacional e todo mundo se comovesse. No entanto, a carne negra é barata demais para tal, se a mídia internacional oferecer padrão de sensibilidade pluri-racial para as tragédias humanas logo teriam de justificar todas as atrocidades cometidas sobre pessoas negras, o descaso faz parte de um plano, é necessário a carne e a vida negra continuarem baratas para que a opressão, as guerras e as invasões, tenham justificação aos olhos do imperialismo contemporâneo.
ENCONTROS ENTRE O PRESENTE E O PASSADO
Entre os mortos na praia e os escravizados - Rei Leopoldo e os crimes do colonialismo no Congo.
Quando você mata dez milhões de africanos, você não é chamado de “Hitler”
O seguinte texto foi escrito por Liam O’Ceallaigh para a página Diary of a Walking Butterfly, em dezembro de 2010.
Leopoldo II foi Rei da Bélgica de 1865 a 1909, data de sua morte. Ele comandou o Congo de 1885 a 1908, quando cedeu o controle do país ao parlamento belga, após pressões internas e internacionais.
Olhe para essa foto. Você sabe quem é?
A maioria das pessoas não ouviu falar dele.
Mas você deveria. Quando você vê seu rosto ou ouve seu nome, você deveria sentir um enjoo no estômago assim como quando você lê sobre Mussolini ou Hitler, ou vê uma de suas fotos. Sabe, ele matou mais de 10 milhões de pessoas no Congo.
Seu nome é Rei Leopoldo II da Bélgica.
Ele foi “dono” do Congo durante seu reinado como monarca constitucional da Bélgica. Após várias tentativas coloniais frustradas na Ásia e na África, ele se instalou no Congo. Ele o “comprou” e escravizou seu povo, transformando o país inteiro em sua plantação pessoal com escravos. Ele disfarçou suas transacções comerciais como medidas “filantrópicas” e “científicas” sob o nome da Associação Internacional Africana. Ele usou o trabalho escravo para extrair recursos e serviços congoleses. Seu reinado foi mantido através de campos de trabalho, mutilações corporais, torturas, execuções e de seu próprio exército privado.
A maioria de nós não é ensinada sobre ele na escola. Não ouvimos sobre ele na média. Ele não é parte da narrativa de opressão repetida amplamente (que inclui coisas como o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial). Ele é parte da longa história de colonialismo, imperialismo, escravidão e genocídio na África que se chocaria com a construção social da narrativa de supremacia branca em nossas escolas. Isso não se encaixa bem nos currículos escolares em uma sociedade capitalista. Fazer comentários fortemente racistas recebe (geralmente) um olhar de reprovação na sociedade “educada”; mas não falar sobre genocídios na África cometidos por monarcas capitalistas europeus está tudo bem.
Mark Twain escreveu uma sátira sobre Leopoldo chamada “King Leopold’s Soliloquy; A Defense of His Congo Rule” [Solilóquio do Rei Leopoldo; Uma defesa de seu mando no Congo], onde ele ridiculariza a defesa do Rei sobre seu reinado de terror, principalmente através das próprias palavras de Leopoldo. É uma leitura simples de 49 páginas e Mark Twain é um autor popular nas escolas públicas americanas. Mas como acontece com a maioria dos autores politizados, nós geralmente lemos alguns de seus escritos menos políticos ou os lemos sem aprender por que é que o autor os escreveu. A Revolução dos Bichos de Orwell, por exemplo, serve para reforçar a propaganda anti-socialista americana de que sociedades igualitárias estão fadadas a se tornar o seu oposto distópico. Mas Orwell era um revolucionário anti-capitalista de outro tipo – um defensor da democracia operária desde baixo – e isso nunca é lembrado.
Nós podemos ler sobre Huck Finn e Tom Sawyer, mas King Leopold’s Soliloquy não faz parte da lista de leituras. Isso não é por acidente. Listas de leitura são criadas por conselhos de educação para preparar estudantes a seguir ordens e suportar o tédio. Do ponto de vista do Departamento de Educação, os africanos não têm história.
Quando aprendemos sobre a África, aprendemos sobre um Egipto caricatural, sobre a epidemia de HIV (mas nunca suas causas), sobre os efeitos superficiais do tráfico de escravos, e talvez sobre o apartheid sul-africano (cujos efeitos, nos ensinam, há muito estão superados). Nós também vemos muitas fotos de crianças famintas nos comerciais dos Missionários Cristãos, nós vemos safaris em programas de animais, e vemos imagens de desertos em filmes. Mas nós não aprendemos sobre a Grande Guerra Africana ou o reinado de terror de Leopoldo durante do Genocídio Congolês. Tampouco aprendemos sobre o que os Estados Unidos fizeram no Iraque e Afeganistão, matando milhões de pessoas através de bombas, sanções, doença e fome. Números de mortos são importantes. Mas o governo dos Estados Unidos não conta as pessoas afegãs, iraquianas ou congolesas.
Embora o Genocídio Congolês não esteja incluído na página “Genocídios da História” na Wikipédia, ela ainda menciona o Congo. O que é hoje chamado de República Democrática do Congo é listado em referência à Segunda Guerra do Congo (também chamada de Guerra Mundial Africana e Grande Guerra da África), onde ambos os lados do conflito regional caçaram o povo Bambenga – um grupo étnico local – e os escravizaram e canibalizaram.
Canibalismo e escravidão são males terríveis que certamente devem entrar para a história, mas eu não pude deixar de pensar sobre que interesses foram atendidos quando a única menção ao Congo na página era em referência a incidentes regionais, onde uma pequena minoria das pessoas na África estava comendo umas às outras (completamente desprovida das condições que criaram o conflito, e das pessoas e instituições que são responsáveis por essas condições). Histórias que sustentam a narrativa de supremacia branca, sobre a inumanidade das pessoas na África, são permitidas a entrar nos registos históricos. O homem branco que transformou o Congo em sua plantação pessoal, campo de concentração e ministério cristão – matando de 10 a 15 milhões de pessoas congolesas no processo – não entra na selecção.
Sabe, quando você mata dez milhões de africanos, você não é chamado de “Hitler”. Isto é, seu nome não passa a simbolizar a encarnação viva do mal. Seu nome e sua imagem não produzem medo, ódio ou remorso. Não se fala sobre suas vítimas e seu nome não é lembrado.
Leopoldo foi apenas uma das milhares de coisas que ajudaram a construir a supremacia branca, tanto como uma narrativa ideológica quanto como uma realidade material. Eu não pretendo dizer que ele foi a fonte de todo o mal no Congo. Ele teve generais, soldados rasos e gerentes que fizeram sua vontade e reforçaram suas leis. Ele era a cabeça de um sistema. Mas isso não nega a necessidade de falar sobre os indivíduos que são simbólicos do sistema. Mas nós nem mesmo chegamos a isso. E como isso não é mencionado, o que o capitalismo fez à África e todo o privilégio que as pessoas brancas ricas receberam do genocídio congolês permanecem escondidos. As vítimas do imperialismo, como costuma acontecer, são invizibilizadas.
Fonte:Muitoalémdocéu (word Press)
FONTE:
https://www.facebook.com/Isidro.Pensador/posts/10207897797031730
Fonte da imagem: ecologiaurbanacwb.blogspot.com
Por: Belarmino Mariano Neto
Início, meio e fim. Estou aqui diante de três coisas. Tendo que começar a dizer sobre um tema que vem se tornando cada vez mais banal no meio de um verdadeiro bombardeio de informações sobre a importância de preservar a natureza e muito preocupado com o fim de tudo isso, pois enquanto as pessoas falam ou discutem o meio ambiente, muitos estão com o cigarro aceso ou acabaram de jogar o papel do bombom pela janela (MARIANO NETO, 2001).
A partir de agora, centralizarei meu texto nos elementos da informação ambiental como uma das marcas do atual estágio de globalidade pela qual passa e vive o humano em seu presente. A ideia é relacionar a linguagem como elemento envolvente dos sistemas de informações e da própria ciência que até certo ponto se torna refém do discurso e da representação.
Fonte da imagem: www.radioaustralia.net.au
A informação ambiental como banalidade do discurso é uma tentativa de conectar os limiares da pós-modernidade com a informação, seus veículos em rede e todo o emaranhado de contradições do presente.
Vivemos o paradoxo da pós-modernidade em que a linguagem, a informação ou o discurso ocupam o centro da ciência. A linguagem é a ponte na criação das relações. A teia com os outros mundos e o espaço do dizer e da produção cultural. A informação passou a ser o elemento de maior importância para o mundo contemporâneo. Um mundo visual que produz a consciência da sensibilidade, o conhecimento dos primórdios e do essencialismo e as imagens construídas pela vida de cada pessoa.
A linguagem constrói ciência, (des)constrói o censo de verdade ou de realidade alimentando ideias e utopias. A linguagem cria condições, quebra fronteiras e desafia a constante ideia de ponto final. A capacidade cultural e tecnológica de dizer, de falar, de escrever, de informar e de estabelecer conexões intervencionando a lógica do tempo e do espaço, abrindo portas para a tele distância na arte da ideia do humano como sendo um programa de palavras ditas, não ditas e por dizer.
Se a espécie humana ainda precisa de uma alavanca para modificar o mundo. Modificar, não. Para salvar o mundo, ela já reencontrou. Essa ferramenta, usada e demonstrada com competência pelos cinco mil jornalistas que fizeram a cobertura da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, em Johannesburgo, na África do Sul, tem um novo nome: informação ambiental (FIRMINO, Hiram. p. 06, 2002).
A grande questão é: até que ponto a totalidade da informação ambiental tem surtido algum efeito real nas atitudes humanas, em seus Estados, governos, sociedades e empresas? Sem sombra de dúvidas, a informação ambiental foi totalmente democratizada. Internet, televisão, vídeos, rádios, revistas, jornais, folhetos, etc.
Fonte da imagem: virusplanetario.wordpress.com
São produzidos diariamente com temas que estão relacionados com o meio ambiente e sua preservação. Já somos mais de 6,8 bilhões de seres humanos, e de um jeito ou do outro nos chega a informação ambiental.
Mas, até que ponto, nós nos importamos com estas questões a ponto de mudarmos de atitudes? É claro que a consciência não se faz num dia, mas no dia da consciência de cada uma destas são questões relevantes para o momento pelo qual passa a humanidade.
Estou percebendo que o problema não é de (cons)ciência – conhecimento. A questão maior é que existe uma poluição informacional em todos os sentidos. A massificação da informação ambiental é acompanhada de uma massificação ainda maior do consumismo.
Ao lado de uma informação do tipo defenda a natureza, temos dez informações sobre compre, compre, compre, consuma, consuma, consuma, compre, consuma, compre, consuma, compre. A sociedade de mercado monopolista e de consumismo a qualquer preço já descobriu as marcas ecológicas, que geralmente também são dez vezes mais caras. Já temos nos supermercados seções inteiras de produtos ecologicamente corretos: café ecológico, açúcar de demerara e mascavo, açúcar orgânico claro, arroz integral e ecológico, verduras orgânicas e sem agrotóxicos, etc. Estas marcas disputam espaço com os ligths, dietéticos, transgênicos, enlatados, estabilizados, e todas as "marcas envenenadas e turbinadas" do mercado tecnológico dos alimentos.
Firmino (2002) acha que, se continuarmos pensando globalmente, mas não fizermos nada localmente, enquanto indivíduos, cidadãos e nação, o fim não será surpresa. A situação do planeta é de alto risco, mas às práticas da superprodução capitalista despreocupadas com os efeitos sobre o meio ambiente nos deixam perplexos, impotentes e alienados de qualquer ação efetiva contra este estado e velocidade destrutiva.
O pior é que as informações ambientais não estão sensibilizando efetivamente a grande maioria das pessoas. Salve a natureza ou a si próprio é algo banalizado em meios aos outros tipos de apelos bombardeados pelo mercado. "Beba coca-cola e salve a natureza ou salve a natureza e será salvo" não estar fazendo muita diferença mesmo. Ninguém acredita, mas acaba tomando coca-cola e esquecendo de salvar a natureza.
Fonte da Imagem: qkantton.wordpress.com
A aparente ação de muitas empresas é de que estão investindo em defesa do meio ambiente, principalmente empresas com elevado nível de poluição.
Fazendo uma meia culpa. Mas no geral continuam com suas atividades a todo vapor. Ou seja, não basta um programa paliativo. O que precisamos é de uma radical mudança de atitudes. Uma sociedade ecológica, uma humanidade ecológica precisa ser em todos os sentidos.
A exploração abusiva dos recursos naturais nos coloca diante de uma natureza fúnebre. A natureza como ambiente dos lugares estragados, a natureza como um depósito de lixo a céu aberto.
A informação ambiental é uma prática que começa a ser especializada pela mídia a partir da reunião do Clube de Roma, anos 70, primeiro passo para a percepção de que os recursos naturais não são renováveis, e que a exploração desenfreada dos recursos renováveis coloca em risco a vida na Terra. Desse encontro tira-se o documento que aponta para o Crescimento Zero.
Onde os países ricos alertando o mundo para os problemas ambientais globais, causados pela sociedade urbano-industrial e crescente dinâmica demográfica dos países subdesenvolvidos, colocam em risco o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, especialmente para as nações com dependência tecnológica e atraso econômico que propagam "o desenvolvimento a qualquer custo" (BRODHAG, 1997, p. 49).
Em 1972, a Organização das Nações Unidas – ONU convocou a Conferência de Estocolmo (Suécia), que marcou a mundialização das questões ecológicas. (SENE & MOREIRA, J. C. 1998, p. 407) Nessa "Declaração do Ambiente", são perpassados os primeiros acordes para as preocupações com o desenvolvimento sustentável, com um forte apelo aos direitos fundamentais do homem - vida, liberdade e igualdade de condições em um ambiente racionalmente protegido, onde o desenvolvimento deve ser planejado pelo Estado no sentido de melhorar o ambiente em benefício das populações; fazer uma gestão dos recursos no sentido preservar e melhorar o ambiente, assegurando às gerações atuais e vindouras uma melhor qualidade de vida. Foram aprovados 26 princípios gerais e pouca ação por parte dos diferentes países. O importante é que Estocolmo marcou a visão ecológica global, tendo sido, de fato, uma conferência de caráter planetário.
Na sequência, chegamos à Rio 92, Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com a presença de 106 chefes de Estados ou representantes e mais de 35 mil pessoas. Este encontro resultou na "Agenda 21", com quarenta capítulos, 800 páginas, muitas sugestões e poucos compromissos firmes. Pois este documento não fixou os objetivos, estimativas, custos, nem modalidades. Estamos diante dos fios invisíveis que manipulam as contradições de uma política ecológica mundial (FREIRE, 1992, p.27).
Fonte da imagem: Antes que vire lixo - gaiabrasil.com.br
As ONGs e outros se contrapuseram ao encontro patrocinado pela ONU, mas o que prevaleceu foram as decisões do G-7 (o grupo dos sete países mais ricos) e suas instituições financeiras. Os crimes ecológicos e o modelo de desenvolvimento continuam, apesar do compromisso das nações em gradualmente diminuir tais crimes (BRODHAG, 1997, p.61). O desperdício da sociedade de consumo forma esse novo caldo de cultura, que não é total, mas fragmentado nos indivíduos de cada canto do mundo como em um processo sem fim. Incorporadores de valores, rugosidades, sentidos e ritmos do existir.
Do dia 26 de agosto a 04 de setembro de 2002, em Joanesburgo, na África do Sul, foi realizada a Rio + 10. Uma Reunião da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Reuniu mais de 160 chefes de estados, 45 mil delegados e 7 mil ONG’s representantes de 185 países. Em nível de representação internacional, essa foi sem dúvidas a maior conferencia mundial sobre o tema.
Se a Rio 92 nos deixou claro que a natureza é finita, limitada e que funciona dentro de um sistema interdependente e que precisa do princípio do equilíbrio, perguntamos o que de fato os governos, empresas e sociedade civil fizeram para reverter a velocidade de suas práticas econômicas antiecológicas? Estamos diante de uma década da Rio-92. Naquele período vários ecologistas já apontavam para esta situação de descaso com o meio ambiente.
Roberto Freire (1992) divulgou um manifesto intitulado a FARSA ECOLÓGICA. A ECO-92, encontro paralelo ao Rio-92, foi fortemente criticado como divisionismo de radicais. Hoje a gente entende porque a Rio+10 foi um fracasso frustrante. Não só a Rio+10. Tivemos o Protocolo de Kyoto, o Fórum social mundial realizado na África do Sul, a ameaça Norte Americana de guerra aos iraquianos e o descompromisso do Governo Bush e dos seus colaboradores em relação ao meio ambiente. Estes elementos históricos parecem distantes, mas na atualidade, os governos dos países desenvolvidos continuam seguindo o mesmo receituário contra ambiental de a dua década.
Para o Greenpeace, o Rio + 10 pode ter sido a 2ª chance. Será que teremos uma terceira, quarta, quinta chance? Com esse capitalismo turbinado, os impactos locais, regionais, nacionais e globais já estão totalmente sistematizados. O pequeno Rio de minha cidade estar cheio de pneus pirelle, farestone, garrafas pet de coca-cola, latas de óleo da Texaco, Shell e todas as grandes marcas, mundiais.
O Rio de 1992 encontra-se mais poluído, mais violento, mais pobre. Em 2016 teremos os Jogos Olímpicos e o Rio de Janeiro será sede. Entre as exigências oficiais, um grande trabalho ambiental para limpeza da Baia da Guanabara. Efetivamente, não acontecerá como previsto.
A África de 2002, em especial Joanesburgo, não mudou muito a sua situação ambiental. O Rio+10 é a pura constatação de que a agenda 21 foi mais gasto de papel, energia e utopias de um mundo ambientalmente viável, socialmente justo e economicamente sustentável. Reflexo disso é a grave crise ambiental vivida no continente africano, onde epidemias e doenças graves como o ebola assolam grandes áreas do continente.
Fonte da imagem - Natureza morta - moblog.whmsoft.net
Para concluir esse quase manifesto deixo aqui registrado a denúncia, de que no Brasil já existe uma nova indústria parecida com aquela da seca. É a "Indústria Ambiental". Os recursos para salvar os rios, as florestas, os animais, começam a aparecer nas placas dos governos e até empresas privadas, mas o ambiente continua degradado. Entidades estão sendo criadas para defender o meio ambiente, muitos são escritórios para carrear recursos para fins ilícitos. Essa pode ser uma visão pessimista, mas só vejo uma saída: a transformação dessa sociedade capitalista e consumista por uma sociedade ecológica autogestionária. O que chamo de Socialismo Comunitário Ecológico. Ou quebramos essa lógica de destruição socioambiental capitalista ou não teremos futuro ecológico.
Referências:
BOOKCHIN,Murray. Por uma ecologia Social. Rio de Janeiro: Utopia, nº. 04, 1991.
BRODHAG, Christian. As quatro verdades sobre o planeta. Por uma outra civilização. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
CASTELLS, Manuel. O Poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FIRMINO, Hiram. A Ecologia do Sapo. In.: JB Ecológico. Rio de Janeiro, nº. 08, 21/12/2002.
FREIRE, Roberto. A Farsa Ecológica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1992.
LEVI, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000.
MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário – Memória Cultura, Natureza e Submundialização. Joao Pessoa/PB: Editora da UFPB, 2001.
SENE, Eustáquio de, & MOREIRA, J. Carlos. Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização. São Paulo: Scipione, 2002.
SILVA, T. Tadeu da, HARAWAY, Donna & KUNZRU, Hari. Antropologia do Ciborgue – as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Fonte:www.etudogentemorta.com
Por Belarmino Mariano Neto
Quando ocupei o útero de gaia ainda não era homem, mas apenas sonho.
Gaia Gerou do sêmen solar a luz da vida que germina em suas entranhas fecundas.
Primeiro um pó de luz se espalhando pelos recantos e imaginários olhos de mulher,
que chora, grita, e sorrindo cria nas profundezas do ser os cristais para o novo e
desprendido movimento do nascer galáctico: o filho de uma nova idade, fluído de
uma aromática essência de mulher que chorando se corta por dentro e sangra um
avermelhado e violento momento matriarcal.
Fonte: liboriocosta.blogspot.com
"Eu vi a morte, (...) com manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de coral da desumana.
Eu vi o estrago, o bote, o ardor cruel, os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita a cobra cascavel, e na esquerda a coral, rubi maldito.
Na fronte uma coroa e o gavião, nas espáduas as asas
deslumbrantes que ruflando nas pedras do sertão, pairavam sobre urtigas
causticantes, caule de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue
iluminado.
(...) Mas eu enfrentarei o sol divino, o olhar sagrado em que a pantera
arde. Saberei por que a teia do destino não houve quem cortasse ou desatasse.
Fonte: olhosinquietos.blogspot.com
(...) Ela virá a mulher aflando as asas, com os dentes de cristal feitos de brasas e
há de sagrar-me a vista o gavião.
Mas sei também que só assim verei a coroa da chama e Deus meu rei assentado em seu trono do Sertão." (Ariano Suassuna, Poesia Viva, 1998, CD:14 e 15).
Estes fragmentos de sonetos, carregados de signos, enigmas e imagens únicas
são os elementos da morte, percebidos por Ariano Suassuna. Neste imaginário, as
figuras da morte, vestida com adereços de elementos da natureza sertaneja, nos
fazem viajar pelas palavras para na morte a sublimação da carne, onde o sol é um
testemunho vivo de tal sede. Assim, símbolos da natureza semi-árida são
ressaltados como poderosos e sagrados, no ponto do divino centralizar sua força
nestas terras. Em outras partes do soneto, Suassuna ressalta a morte como um
toque inapelável do divino, maciez, vida e obscuro toque de um Deus no homem.
Fonte: www.sporcle.com 435 × 595
O lugar e seus elementos como o gavião, a cascavel, a coral, a vida e a morte como
figura feminina, que em suas palavras ganham um profundo significado. O destino,
outro elemento muito forte na cultura nordestina, que em sua “triste partida” pode
estar traçado, e diante da morte é preferível vagar pelas terras alheias, na espera
de um dia voltar. Pois o destino traçado em suas mãos vai além de seus poderes
terrenais.
Morte espetacular, em todos os seus elementos de arte. A morte possui a arte de
matar. A morte mata o tempo e morrer é muito natural. Todo tempo é de morte, é
de morrer. O ato de morrer parece o fim da vida, animal ou vegetal.
Pode ser uma entidade imaginária, crânio humano sobre ossos e cinzas.
Morte agônica, súbita, neurocerebral e irreversível. A morte cósmica de uma estrela,
grande e natural morte. Morte matada não natural. Morrida, natural.
Por doença, violenta, rápida, imprevista. Desastre, homicídio, suicídio.
Chorada, cantada, lastimada, irremediável.
Fonte: amateriadosonho.blogspot.com
A morte de um amor ou de um rancor. Cores incolores pouco vivas, pálidas,
mortas, brancas, pretas almas. Um espetáculo. Milhares de pessoas todos os dias e noites.
A cor incolor da morte tecida em luz e trevas, ausenta e apresenta-se sai dos esconderijos e em seu
clandestino silêncio, representa a contemplação nua dos deuses com seus toques
mágicos de mulheres em seda, morim e cetim. Tintas e cores tecidas no
multicolorido matar incolor. Um espetáculo aos vivos. Bandeiras sobre os caixões,
fogo das paixões cremam em lágrimas, enquanto as flores murcham e as moscas
acompanham o cortejo fúnebre.
Era um anjinho, menos de um ano. Cedo de mais para seus oitenta e cinco anos de
vida lúcida e pública. Apenas um ano e o câncer se espalhou por toda sua vida
acumulada em rugas.
Um espetáculo de cores que para o trânsito e muda o sentido das conversas. Breve,
curto, longo sentir. Apenas um tremor de terra, quase tudo pelos ares. Via satélite,
aos vivos. Um espetáculo de imagens em escombros. Quase tudo fora do lugar. Um
resgate pelo cochilo da morte. É o que é da morte em todos os lugares, um
complemento ao ponto final. Um espetacular cálculo estatístico que preocupa os
órgãos de saúde.
As covas são valas rasas e pequenas para os milhares de mortos infantis por
desnutrição transcontinental. Um espetáculo, assistido em propagandas de
iogurtes, promoções de supermercados ou recordes de produção nas safras de
grãos.
Um espetáculo em imagens para a hora do almoço e do jantar. Uma morte que fica
bonita e ganha vida própria. Colorido, trilha sonora, visitas ilustres e cenas de
choro e lenços. Populares e ilustres tecem curtos trechos de filosofia vã
(vida/morte, ser/existir, desistir). A tristeza se reveste de pompa, os óculos pretos
e modernos contrastam com as faces rubras de peles bem tratadas.
Fonte: wousadia.blogspot.com
A morte ganha todas as cenas, gera audiência, redimensiona a memória/imagem
de passados que já estavam mortos. Os filtros das câmaras criam um ar
acinzentado e mórbido. Flores quase mortas avivam os entornos do espetáculo
mortal. Uma princesa, um velocista, um bandido, um índio Galdino, um mega star,
um caminhão de sem terras no click de Sebastião Salgado ou mesmo um simples
popular do corpo de bombeiros, que arriscava a vida para salvar vidas. Todos filhos
da morte.
Tons e sons de morte sobrevoam o local do cortejo. É uma pessoa ilustre, um chefe
de Estado, era integro honesto e bravo. Álbuns de família são focados pela
panorâmica das câmaras. Uma desatinada busca e alucinada espera. Cortante e
bruto alimento do pensar, desconstrução de destruição na construção de uma
miragem. Filhos do estupro ou abortados pelo medo, homens. Violação patriarcal
do divino, violência matriarcal em estar vivo. Morte calada que rebusca nas cinzas a
poeira cósmica da noite, que escondo o sono e que não permite a embriagues dos
sonhos.
Fonte: www.pinterest.com
Um espetáculo mortal, monumental. Milhares foram soterrados pela truculência da
natureza, em um simples tremor de terras. Cenas mundiais repetidas mais de uma
vez pelos diversos canais, via satélite, aos vivos.
A tragédia é africana e européia. Combina morte/ rivalidade, alimento/ fome. Um
espetáculo mortal e louco de vacas inocentemente sacrificadas aos milhares.
Tragédia euroafricana de vacas e homens. Quantas vidas para cada morte. Uma
morte, uma vida.
Fonte: www.mitologia.templodeapolo.net -
Uma cena espetacular que desencadeia todos os pensamentos
que a lucidez consegue roubar da mente em uma loucura. Um viajar imaginário do
ser e penetrar da seda fina do subatômico do momento do sábio nadar e no
demasiado sendeiro do escuro da luz nada encontrar. É grande a noite se resumida
a uma madrugada da morte. Parece uma nevasca eterna. São tantos os espaços da
morte que até o vazio se desespera.
Fonte: www.mundos-fantasticos.com
É um espetáculo a certeza da morte. Como garrafas de vinho vazias representa os
devaneios humanos, a morte das uvas e o nascimento dos sonhos que embebidos
pelo doce/amargo, seco/suave traz na sua idade o sabor de uma vida presa,
enfrascadora de energias que em estado líquido, tinto, branco ou rose, pode
derramar-se sobre o corpo, a alma, a calma e a alegria. Por libertar-se, ser vinho,
rio correndo pelo pensar e passar dos que se tornam vinhos em suas fantasias
fermentadas. Te vê do alto com um voar de homem-pássaro, tua contradição
dilacera todos os sentidos de um apocalíptico alfa do gradativo vitral nadesco a se
apagar. Sem luz perdi de ver o brilho dos teus olhos, perdi de ver de vez o que
talvez não veja jamais.
Fonte do texto:
Extraído na integra - http://www.cchla.ufpb.br/caos/numero4/04marianoneto.pdf.
Fontes das Imagens:
https://www.google.com.br/search?q=imagens+da+morte+e+mitos&espv=2&biw=1280&bih=656&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=96qPVJntKs6uogSP-IKICg&ved=0CBwQsAQ
Fonte: http://www.infoescola.com/mitolog
Por Belarmino Mariano Neto
Acho que existem duas questões em jogo, a primeira é relacionada aos elementos apalavrados e a outra diz respeito ao uso das palavras, pois a palavra é possuidora de muitas forças forjadas nos recônditos de nossa mente, elas expressam pensamentos, expressam sentimentos e, expressam vontades. Este trivium é minha maneira de viver e ver o mundo do qual sou participante.
Todas as palavras são de um potencial sacro fantástico. Elas são imantadas de significados e interesses tão divinos que podem ser encontradas no mitológico mundo de Hesíodo em “os trabalhos e os dias” e esclareço a escolha deste filosofo grego, pois nele encontramos o mito de “Prometeu e Pandora” que começa dizendo: “oculto retêm os deuses o vital para os homens; senão comodamente em um só dia trabalharias para teres por um ano, podendo em ócio ficar; acima da fumaça logo o leme alojarias; trabalhos de bois e incansáveis mulas se perderiam” (HESÍODO, 2006, p.23).
A escolha do fragmento de idéias gregas, tão primitivas e civilizadas encosta nos nossos dias de trabalho e de ócio. Temos muitas alegorias como: a “Caixa de Pandora”, enviada por “Júpiter” para castigar todos os homens mortais de um lugar. Percebam que ainda não estou querendo chegar à idéia instituída como Caos, nem a perspectiva de Nix ou de Eire. Figuras “erradas” e “iradas” que vivem surfando nas ondas olímpicas de nossa tradição filosófica e mitológica. Até porque, gosto por demais do Caos, da Noite e da Discórdia, pois é da deusa da Discórdia que nos alimentamos com os trabalhos e os dias.
Fonte: http://www.vanialima.blog.br/2013/0
Mas voltemos a Prometeu, pois lhe coube a dádiva de criação do homem, essa mistura de água, terra, ar e ocultos materiais divinos que lhes permitiram direcionar a face aos céus, se imaginando também um pouquinho deuses.
Vejam que estamos pensando em coisas essenciais que poderiam ser aqui representadas como elementos da natureza. Mas parece que na lógica da discórdia e na separação dos materiais, “o olho e o cérebro” (MEYER, 2002), preferem o cérebro matéria, memória expressa em neurônios e percepção visual da terra, do lugar ou do peso do firmamento.
Nesse momento, gostaria de invocar a mulher, pois “Pandora” parece ser o presente de grego, dádiva de Júpiter ao pobre Prometeu. Ela é um castigo de Júpiter e que atingirá de cheio a criação divina em forma de homem.
Nem gostaria muito de colocar o irmão de Prometeu nessa parte da história que lhes conto, mas foi exatamente Epimeteu, quem recebeu Pandora enquanto um presente, do qual Prometeu suspeitava e desconfiava. Pandora trazia em sua caixa, muitos e irados problemas para os homens e estes problemas escaparam antes que Pandora houvesse fechado a sua caixa, restando apenas um cantinho de esperança no fundo das coisas.
Vejam que estamos vivendo mais uma vez à sórdida história das tragédias humanas e colocadas enquanto antecipação de fatos e fantasias tão divinas e tão humanas, com os quais nos tornamos homens mortais. Assim, as coisas estão caminhando em nosso mundinho. O uso in-devido das palavras, fortalecem contradições e expõem as entranhas de tradicionais forças que vivem em subterrâneas camadas do nosso cérebro. Hoje estava me perguntando: Pensamento, memória e o consciente são mesmo de que matéria? Pelo que mesmo estamos lutando em nossos dias? Em que darão estas brigas de Titãs?
É nesse sentido que invoco Hesíodo em “os trabalhos e os dias”, pois pelo que me consta, existem muito melindro e vaidade entre as divindades do olímpico mundinho de nossa existência. Por isso os homens e mulheres que não são deuses, mesmo tendo sido projetados com o mesmo material e designe das divindades, precisam trabalhar, mesmo que muitos prefiram o ócio e confusões divinas.
Por outro lado, “O Prometeu acorrentado” acha que Pandora trás em sua caixa todos os tipos de males, uma narrativa em que o ódio, a inveja e tudo mais, recairão sobre o homem e seu lugar. Vejo que as nossas relações estão tão presas ao mito de Prometeu e Pandora que o mundo dos homens, a história, a tradição, parecem vinganças de Zeus contra um lugar humano, amaldiçoado para sempre.
Gosto da idéia de ser uma mortal e de ver meus dias consumidos pela vida, pela imprevisibilidade, assim me sinto tão divino quanto às crianças que brincam despreocupas do amanhã, mas sei das minhas correntes e assumo a condição “prométeica” de ter que trabalhar os dias, de planejar meus sonhos e de fazer acontecer. Nesse sentido, todos os argumentos e sentimentos de pertencimento ao lugar possuem a mais fiel validade, todos os medos e atropelos na maneira de conduções das idéias são naturalmente aceitáveis por todos, mas a engrandecida e catastrófica idéia de que tudo vai acabar não ajudam na configuração das melhores argumentações para o presente.
Claro que o cérebro, processa necessidade imediata, reação instintiva e o frio na espinha quando se é surpreendido pelo latido do cão nas pernas. Mas passado o susto, recomposto o estado da racionalidade pura, será possível dialogar com as três maiores e invisíveis forças da natureza: Cronos (o tempo), Cosmo (o espaço) Caos (aqui traduzido com a incerteza). Falo do tempo, pois ele é o grande Senhor que a todos consome. No nosso caso, o tempo urge e precisamos ter clareza disso em nossas ações, pois depois que a areia escorre pelo fino gargalo da ampulheta, pouco se tem a fazer.
Fonte: https://fenixdefogo.wordpress.com/t
Acredito que nessa relação espaço-tempo, a “Intercomunicação dos Sentidos”, Sobre a incerteza, acredito demais nela, é o corpo teórico com o qual gosto de trabalhar. Defendo inclusive que a vida é imprevisível, que “só há um ponto fixo”, como afirma Kafka e que é daí que precisamos partir. Não acredito que o cérebro funcione apenas para transmitir e dividir o movimento das ondas neurais. Algo mais que motricidade e mecânica físico-química acontecem nesse órgão de seleção e ação. Meio que discordando de Bérgson citado por Meyer (2002), somos possuidores de memória pura antecedente e o que chamo de essência espiritual dos titãs. Assim justifico tão enfronhado texto de mitos, homens, mulheres e divindades.
Por isso, somos homens e mulheres mortais e sem culpas, nesse caso, conscientes dos papeis por nós assumidos entre “os trabalhos e os dias”, temos um poder reconhecido enquanto “lembrança pura”, transformada em “lembrança-imagem” (MAYER, 2002, p.24), e o conhecimento que podemos utilizar servirão para como Hercules, libertamos prometeu das correntes, pois sua luta foi conquistar o fogo para os humanos e por tal façanha foi acorrentado.
O lugar como um detalhe abre espaço-tempo para o uso da inteligência coletiva (LÉVY, 2000) e para a constituição de laços sociais e relações com o saber dos quais temos profundo censo de justiça, ética e mais uma vez inteligência coletiva.
REFERÊNCIAS
HESÍODO. Os trabalhos e os dias. (Traduz. LAFER, M. C. N.). São Paulo: Iluminuras, 2006.
LÉVY, Pierre. A Inteligência coletiva – por uma antropologia o ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
MEYER, Philippe. O olho e o cérebro – biofilosofia da percepção visual. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.
De: Belarmino Mariano Neto
O caleidoscópio, espaço tridimensional construído a partir de três lâminas de vidro espelhadas, postas em oposição, reproduz ilusórias imagens. Colocados cacos de vidro coloridos, miçangas e outros fragmentos, sem ordem de distribuição, estes representam o caos, a completa desordem, mesmo limitado a cônico espaço de reduzidos diâmetros. Mas se movimentamos este cilindro, observando a posição dos fragmentos, notamos uma verdadeira ordem universal, ou seja, o cosmo em um vitral harmônico, mesmo sabendo que o mecanismo é pura geometria euclidiana. Assim são as imagens de Lindalva, refletidas no trivium de espelhos colocados frente a frente. Um jogo de imagens caleidoscópicas lhes deixa delirar embebida com suas próprias imagens de mulher beleza rara, corpo sarado em muita malhação, ciclismo, praia e alimentação saudável conseguida em uma feira orgânica do universo carioca. O significado do seu nome no sentido literal pode ser beleza clara, mas Lindalva é uma afro-descendente, ou típica mulata carioca carregada de gingas que mariscam os olhos curiosos. Universitária do curso de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela é uma jovem com seus vinte e cinco anos de idade, uma mulher negra e cheia de sensualidade em poucos anos de juventude. Sua independência financeira ainda não existe, pois o pai, um famoso jogador do Flamengo, lhe garante a realização dos muitos sonhos de jovem. Moça estudiosa conseguiu boa colocação universitária, sendo fascinada por cores incolores, luzes, eletricidade e todos os enigmas da física quântica. Seu quarto de apartamento classe média no aterro do Flamengo é um espaço de contradições caleidoscópicas. As relações que ela estabelece com seu próprio corpo parece caos em contraditórias fragmentações espelhadas em um jogo frenético de luz e movimentos rápidos ao som de mantras tibetanos. Enquanto ela dança e se contorce, figura nos espelhos emparedados do quarto multi-misturas culturais e imagens de mulher partida querendo encontrar-se nesse jogo de espelhos. Por mais que tente se encontrar nos espelhos, depara-se com a incerteza. O paradigma da complexidade incerta. Ela é a física faiscando rajadas dela própria a espelhar-se nesse jogo de imagens, multiplicadas numa imagem que se reflete na imagem de um espelho, refletida no outro espelho, lhe deixando confusa sobre quem é a realidade refletida e qual é o reflexo real dela.
Fazia um certo tempo que não aprecia em meu blog aí das bandas de Portugal, até que nestes ultimos dias andei ouvindo uns fados e também em ter encontrado aqui no Brasil o Romance de Miguel Gullander, publicada pela Língua Geral em 2007, com o título de "Perdido de volta".
Primeiro é importante dizer que a própria história original do autor já é por essencia muito rica de geografias culturais e ambientais, pois o moço escritor tem pernas e braços sueco-luso-africanos e experiências de vida intercontinentais, entre outras. Acredito que a escolha desse romance para a coleção ponta de lança é muito bom para o público leitor brasileiro, pois tudo é muito novo no pensamento do Miguel Gullander, gostei essencialmente das contradições e paradoxos apresentados nos fragmentos românticos do autor. Começo dizendo que existe uma especie de escritos quanticos ou fractais em suas escrituras. Um desafio constante ao leitor que constantemente é arrastado para mares, praias e montanhas distantes; para cavernas e bordas de vulcões; ou para suburbios de Lisboa, Bombaim entre outros. As histórias e os pessonagens são ao mesmo tempo reais e alienigenas, miticas e sagrados. Não sei de a editoração percebeu, mais os titulos de cada capitulo formam uma certa poesia e na medida em que vamos lendo cada capitulo, nos sentimos envolvidos pelos personagens que quase não se repetem. gosto literalmente de titulos como "O beijo do louva-deus" e me lembro em alguns trechos do seu romance de alguns fragmentos do que gosto de escrever como a "nudez do sagrado", postado aqui no blog, em 2006. Quando a gente ler um "candeeiro congelado, chuva em queda e, na testa, o cabelo colado", sente-se na pele as noites nos suburbios de Lisboa. A pergunta que fica é será que o autor escreve essencialmente o que viveu em diferentes dimensões de sua vida?
um ponto no ponto máximo
da máxima quadrandura
da ponte em arcos
uma ponto no ponto máximo
do encontro dos extremos
pontos de mutação
A grande força da
unidade indivisivel
montanha, céu e
solidez substancial
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